AS VÉIA

Frank Maia - http://www.xinelao.blogspot.com/

COMO É QUE PODE NÉ?

Foto Eduardo Pacheco
A lula gigante encontrada na terça-feira da semana passada na Praia do Campeche, vai a leilão! Isso mesmo. Com aproximadamente 4 quilos e medindo mais de um metro, a lula vai ser leiloada neste final de semana, dia 24, com lance minímo de R$ 250,00. Parte da renda será doada para a APLG - Associação de Proteção as Lulas Gigantes. Maiores informações e lances podem ser obtidas no ZECA BAR E RESTAURANTE, na praia do Campeche, Florianópolis.

Segundo biólogos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), esta lula não é comum na costa e sim em alto-mar. O animal pode ter encalhado ou enroscado em alguma rede de pesca. Pesquisadores afirmam que aqui no litoral é comum encontrar lula, mas que pese em torno de 100 gramas.

BRUXAS GÊMEAS

Desenho de Franklin Cascaes

"O Senhor Rosalino Oliveira gostava muito de contar estórias de assombrações e outras. Certa ocasião, estávamos sentados na linda praia de Pântano Sul, Ilha de Santa Catarina, quando ele se lembrou dessa estória...
... Meus pais contavam que no (praia) Saquinho existiu um casal que ganhou como presente do trabalho sexual oito filhas, sem nenhum varão entremeado. Depois do nascimento da sexta filha, nasceram duas gêmeas. O casal ficou muito preocupado com a dádiva lá de riba do alto, isso porque sabiam de antemão que, ao nascer a sétima filha de um casal de gente de argila humana, a mais velha tem obrigação espiritual de batizar a mais moça, para afugentar o triste fado bruxólico que ela recebe naturalmente ao nascer neste mundo de Nosso Senhor, como também os pais devem aplicar-lhe o nome de Benta. Meio confusos e apavorados com a presença do caso bruxólico natural que sabiam envolver suas duas filhas, a sétima e a oitava, gêmeas, resolveram consurtar a sinhá Candinha Miringa, velha e tradicional médica benzedeira e curandeira lá das bandas do Sertão do Peri, mó de tomar conselhos e ouvir suas sábias e firmes palavras com relação às coisas do mundo dos deuses ocultos.- Sim, sinhá Candinha, - falou seu Manoel Braseiro, o pai das gêmeas, - eu confio muito na senhora e sempre ouvi falar que o seu saber espiritual com relação às coisas do outro mundo é verdadeiro e consolador(...)

(Fragmento de Bruxas Gêmeas, conto de Franklin Cascaes em "O Fantástico na Ilha de Santa Catarina" - Volume II - Editora da UFSC - 1992.)

Os 101 Anos de Cascaes

Foto Sérgio Pereira Paiva - Reprodução

Franklin Joaquim Cascaes nasceu em Itaguaçu, no município de São José "da terra firme", em frente a ilha de Santa Catarina, em 16 de outubro de 1908. Professor artífice por profissão, vivenciou e pesquisou durante toda sua vida a cultura popular de base açoriana da Ilha de Santa Catarina e litoral. Folclorista, ceramista, gravurista e escritor, realizou todas suas pesquisas e trabalhos com recursos próprios, baseando sua produção no folclore e na cultura popular. Em seus contos e textos utilizou sempre a linguagem fonética cotidiana, registrando e resgatando os "falares" de seu povo ilhéu.Morreu em 15 de março de 1983, na Ilha de Santa Catarina. A partir daí, Cascaes deixa de ser o "professor meio-maluco", passando a ser considerado o Mestre da cultura açoriana em Santa Catarina.

SAUDOSO MANÉZINHO DO SERTÃO DO PERI

Francisco Thomaz dos Santos (1932-1996), em um dos vários momentos durante as filmagens do documentário"Seo Chico, um retrato", de Zé Rafael, feitas em junho 1996. Ele explica porque não mudaria o tradicional engenho de cangalha mesmo com a chegada iminente da luz elétrica ao engenho. E lembra da lida e da excelência técnica de seu pai na arte de fazer farinha de mandioca.

O engenho do seu Chico foi um dos últimos em atividade na ilha com tração animal, funcionou até ele ser brutalmente assassinado em 1996, três meses após as gravações destas imagens.

QUERENÇA

QUÉS FILHO? VAI DÁ COMO Ô DI! - Expressão usada para dizer que se uma pessoa quer determinada coisa tem que batalhar por ela.

QUERENÇA - Desejo, vontade.

(Dicionário da Ilha -Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina).

SEO FEIO!

Uma manezinha da Ilha em Salamanca, eh, eh.

"Calada estranha! Num demora vai dá viração"

(Frase ouvista no costão da Praia do Saquinho durante uma pescaria)

Calada Estranha - Tempo estranho, sem ventos, sem definição. Calada Podre - Calmaria de vento com sol forte.

Viração - Mudança de vento e de tempo. Ex: "Num demora vai dá viração".

(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina)

TRESONTONTE

Praia de Fora, 1950 - Bem antes da construção da Beira-Mar, quando as casas ficavam realmente na beira-do-mar. Foto feita do mar por Ninguem Sabonome.
Quando se podia ficar com a "tarrafa a váu na pancada da maré".

Tarrafa a váu na pancada da maré - Ato de pescar com tarrafa livremente pela beira da praia.

Tresontonte - Antes de ontem, no passado.

(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina)

VAI LHÁ ISTEPORI!

“Seo Maneca”, o personagem interpretado pelo ator Geraldo Cunha , estará no teatro da Ubro, em Florianópolis, de sexta a domingo, interagindo de forma especial com a platéia. Este pescador humilde e aposentado já é bastante conhecido na cidade, pois adora arte e cultura, principalmente teatro. Desta vez ele vai sozinho, pois sua esposa está cansada e doente, sem a velha disposição para acompanhá-lo, e sua filha arrumou um namorado e não tem mais tempo para segui-lo.

O espetáculo começa às 21 hs e os ingressos custam R$15,00(inteira) e R$7,00(meia) para compras antecipadas, e R$20,00(inteira) e 10,00(meia), para compras feitas no dia.
O endereço é Escadaria da Rua Pedro Soares, 38.

Só pra bunito!

Ilha, com sotaque mané de Jorge Coelho.

COSA LINDA!

PORTO, de Martinho de Haro. Óleo sobre eucatex. Acervo Teatro Alvaro de Carvalho.

Tarrafada

"Se jugá a tarrafa, dá mais gringo que biacú!"
(Frase ouvista na Lagoinha durante o verão)

Biacu - Baiacú, peixe que incha quando é tirado da água.

Gringo - Qualquer estrangeiro, principalmente os latinos.

(Dicionário da lha - Falar & Falares da Ilhade Santa Catarina)

Seo Istepô!

Frank Maia - http://www.xinelao.blogspot.com/

CADÊ O POMBEIRO?

" Olha o camarom, olha o camarom...
Era assim que o velho Aristides anunciava diariamente o seu produto, camarão fresquinho capturado por ele no Baixio da Costeira, de onde caminhava a pé até ao Mercado, com freguesia certa no Saco dos Limões, José Mendes, Prainha e ruas Menino Deus e Tiradentes. Tempos bandidos esses que liquidaram sumariamente com a figura do pombeiro, o vendedor ambulante adaptado aos costumes da cidade antiga. Ele vinha de todos os recantos da Ilha, com um pau, ou cambão como era mais conhecido, ligeiramente vergado sobre as cosatas, com um balaio pendurado em cada extremidade equilibrando o peso. Havia também o pombeiro a cavalo, equipado com dois balaios feitos de taquara e cipó. Vendiam de tudo, camarão, peixe, verdura fresquinha, até capim de colchão e flor de macela, uma planta aromática muito comum nas colinas, de suave perfume, que serve para encher travesseiro, provocando um sono reparador. Hoje, dormir em colchão de capim e travesseiro de macela é privilégio de poucos..."

(trecho do conto de Aldirio Simões, Cadê o Pombeiro, do livro Sou Ilhéu graças a Deus - Editora Papa Livro)

“Essa gente da cidade não é manezinho. Nos meus tempos de guri manezinho era o tolão, mal arrumado, de tamanco no pé. E naquele tempo ninguém gostava de ser chamado de manezinho. Hoje é que virou moda."

Arante José Monteiro, o Seo Arante do Pântano do Sul.

DÁS UM BANHO!

Foto Cleide de Oliveira

O autor e compositor do "Rancho de amor à Ilha", o poeta Claudio Alvim Barbosa, o Zininho, faleceu em 5 de setembro de 1998, em Florianópolis. No vídeo abaixo, a música que se tornou hino oficial da cidade é interpretada pela cantora lírica Claudia Todorov, que escolheu como seu "pedacinho de terra," a praia do Pântano do Sul.

Dá uma espiadinha:

http://claudiatodorov.blogspot.com/

Na lingua do poeta

Ilha, Ilha, bela Ilha,
Não “quisesses” ser minha mãe
“Acabasses” minha filha.

Júlio de Queiroz, poeta

Mané - cais

www.andreailustradora.blogspot.com

vento súli

largato devoluto

acarqueta os óio da tarde

(Fernando Alexandre)

ME AGRADA !!!

"Com essa táli lei seca, a gente tem que encher os corninhos de a pé. Ou no carcanho.

Me agrada !!!"

(Frase ouvista no Mercado Público)

Tali - Tal, a tal.

No carcanho - Ir a pé. De calcanhar.

Ouvisto - Mistura de ouvir com ver.

A extinção da pesca é a mesma do Mané...

Valdir Agostinho, multi-artista da Barra da Lagoa. Dás um banho!

Dar um banho - Expressão usada para dizer que uma pessoa acertou, que foi a melhor, superior.
(Dicionário da lha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina)

GURUPUVÚ

CAMBAR - Mudar de rumo, virar de um lado para outro.
GARRÁ - Agarrar, pegar.
Gurupuvu/ Garapuvu / Gupuruvu / Guarapuvu - Árvore alta e frondosa, muito utilizada na construção de embarcações. Quando florida é facilmente identificável nos morros da ilha pelo amarelão de sua copa. É a árvore símbolo da cidade de Florianópolis.

(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina).

www.andreailustradora.blogspot.com

VISSI?

Arante José Monteiro Filho, o Arantinho, conta, em legítimo manezês, a história das tainhas ovadas de verão.

VIGIA - Pescador que fica em terra olhando para o mar em busca de cardumes de tainha.
(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina).

BRUXAS DO RIBEIRÃO

ilustração Andrea Ramos

As mais famosas bruxas da Ilha

vivem lá no Ribeirão.

Só comem pétalas de rosa

Prá ter cheiro no coração

(Franklin Cascaes, artista e pesquisador)

RIBEIRÃO - Ribeirão da Ilha, uma das comunidades mais antigas da Ilha de Santa Catarina, localizada na baía sul.

(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina)

EMPRESANDO A CRIANÇA

Esta animação foi adaptada do conto de Franklin Cascaes, editado na íntegra no livro O Fantástico na Ilha de Santa Catarina, editora da UFSC.

A visita indesejável , que chega na casa do pescador, era da prima Dedela, uma bruxa autêntica, que acabou empresando a criança. Seo Diolindo foi então chamar a benzedeira Dona Chica:

..."Ao entrar no quarto a benzedeira avistou a bruxa, que estava empresando a criança, acocorada num canto. Sinhá Chica iniciou imediatamente um desafio contra o poder bruxólico.

-Ah! Antão estás aí assentada no canto da casa, sua discarada. Cumigu tu não tiras farinha não, sua mula-sem-cabeça. Eu, cás minha santa palavra, vô currê cuntigo desta casa prá sempre. Vô te jogá no fundo do mári sagrado, ondo o boi preto não berra, nem criança de peito chora"....

ANTÃO - Então.

EMPRESAMENTO - Feitiço feito para alguém por uma bruxa. O mesmo que embruxamento.

MÁRI - Mar.

TIRAR FARINHA - Levar vantagem em alguma coisa. Também brincar com alguém, pegar no pé.

(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina).

NO PANTO SULI

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Mas tão tudo junto lá na Peixaria Du Peixe, no Panto Suli.

SOTAQUES

VAI LHÁ!

AS VÉIA

Frank Maia www.xinelao.blogspot.com

É MAR DE TODO JEITO

MAR CHÃO - Mar manso.

MAR DE LAVADIO - Mar forte, que lava. Ex: "A pesar da calmaria do vento, o mar tava de lavadio”.

MAR DE LEITE - Mar parado, quase sem movimentos. MAR DE LEVA - Mar de tempestade, agitado.

MAR DE RASGÁ CÚ - Mar forte, perigoso. MAR DE VAGA CURTA - Mar com ondas poucas e pequenas.

MAR DE VAGA LARGA - Mar agitado, com ondas grandes e freqüentes.

MAR EMARETADO - Mar remexido, agitado, que dá enjôo.

MAR ENCAPELADO - Mar agitado, bravo.

MAR ENCARNEIRADO - Mar agitado, com vento.
(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina)

EH, EH, EH...

O rap do Mané com imagens produzidas por manezinhos em Londres,
para a TV Câmara de FLorianópolis...

AS RAPARIGA

Cartoon de Frank Maia para o livro ABC do Manezinho, de Raul Caldas Filho, Editora Insular.

Dá uma espiada no

www.chargeonline.com.br

ISTEPÔ - Palavra usada para dizer que uma pessoa não é coisa boa, não presta. Às vezes utilizada de forma carinhosa. O mesmo que istepôri.
RAPARIGA-Menina moça.
Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina.

ARROMBASSI!

A atriz Vanderléia Will, interpretando seu personagem Dona Bilica para um comercial.

MANÉ- CAIS

Ilustração Roy Montibon

BUCICAS NO CIO
LUA CHEIA REINANDO
NO MEIO DA MINHA COZINHA

(Fernando Alexandre, poeta )

BUCICA- Cadela, cachorra.

REINÁ - Brigar, reclamar, implicar. Ex: "Hoje a rapariga tá reinando desde cedo".Também período de cio para animais, mais usado para cadelas.

(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina )

REGGAE DA TAINHA

Mais de 20 nomes de peixes nesta música de Júlio Cruz, interpretada pelo multi -artista

Valdir Agostinho, da Barra da Lagoa, num tem?

LINGUAGEM NO PEITO

Camiseta, arte de Andrea Ramos

MOFAS C´A POMBA NA BALAIA - Expressão usada para dizer que uma pessoa não vai alcançar o seu intento, que vai cançar de esperar.
(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina)

Ô NON DISSE...

"Na sexta-feira passada, dois manezinhos desembarcaram em São Paulo pela manhã no primeiro dia de vigência da lei paulista que proíbe o fumo em locais fechados. Fumante inveterado, ao sair do aeroporto, um deles foi tentar acender o cigarro debaixo da marquise, sendo prontamente advertido pelo guarda de que ali não poderia fumar, recomendando o outro lado da calçada.
O fumante, na ânsia de aplacar seu vício, saiu em disparada para acender o cigarro e quase foi atropelado.
O mané que ficou não se conteve e logo gritou, causando risos na plateia que esperava o táxi:
– O non disse que esse degraçado ainda te mata."

(Nota da coluna de hoje, dia 13 de agosto, do jornalista Cacau Menezes, no Diário Catarinense)

O meu boi é de mamão? É, sim senhor...

"Bernunça", na visão do artista plástico Tolentino Sant'Anna.

A bernúncia é bicho brabo
Que engoliu Mané João
Come pão, come bolacha
Come tudo que lhe dão...
(Verso da cantoria do Boi-de-Mamão, folguedo popular do litoral de Santa Catarina)

Bernunça - Figura fantástica do Boi-de-Mamão, encenação folclórica que ocorre em quase todo o litoral de Santa Catarina. O mesmo que abernuncia.
(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina)

Mostrando a língua...

Ilustração Andrea Ramos - Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina

"É possível saber sobre os nativos pela sua língua. Não, não peço q me a mostrem. É pela língua de falar, ligeiros, e por expressões q na maioria das vezes não consigo compreender. Falam sempre, após uma expressão qualquer, a frase interrogativa: "Não tem?" Pergunto: - O q? - mas eles invariavelmente não respondem. Dizem a cada minuto: "Oíóiói". Sim, olho para ver: acima, atrás, aos lados, mas nada vejo. Chego a conclusão q não os compreendo pelo costume de dizer o q não tem, e pelo q vêem o q não é possível que se veja. Dizem ainda maish em vez de mais, e limõish, em vez de limões..."

(Fragmento de "Carta a Antônio Correia Pinto", conto de Fábio Brüggemann, em "Numa Ilha" - Editora Noa Noa - 1993)

A língua do mar...

" A linguagem desses habitantes das costas ocupados só na pesca e vivendo dela, tem um tipo especial que me impressionou logo ao ouvi-los. Descritiva em geral, ela recebeu o rápido esboçar dos quadros das súbitas tempestades; o morno embater das vagas sonolentas na praia deu-lhes um tal ou qual cadência nas palavras, e o hábito desse silêncio prolongado das pescarias tornou esses homens algum tanto pensativos."
(Fragmento do romance "A Massambu", publicado no sec. XIX, de Duarte Paranhos Schutel, Florianópolis 08/08/1837 - 06/10/1901)

COMO É QUE PODE, NÉ?

Os Pescadores da Lagoa

" Tres pescadores da Lagoa da Conceição, Zeca, Ambrósio e Pedro, conversavam "acrocadinhos" na porta da venda numa tarde de lestada, em tempos ilhéus que já vão longe. Então contou Zeca:
-Ontem peguei uma tainha de 50 quilos.
-É mesmo, exclamaram os outros dois, mostrando pelas expressões que não estavam acreditando muito na façanha do colega.
Aí o Ambrósio, aproveitando a deixa, loroteou: -Pois eu pesquei no domingo 120 quilos de camarão, com 30 centímetros cada um.
-Mas mais incrível ainda aconteceu comigo - garantiu Pedro, para não ficar em desvantagem.
-E o que foi? -indagaram os companheiros, com ar de expectativa.
É que eu vi uma pomboca acesa no fundo da Lagoa.
-Esta não dá pra acreditar! - afirmaram em uníssono os outros dois pescadores.
-Então vamos fazer assim - sugeriu Pedro - o Zeca diminui o tamanho da tainha e o Ambrósio inventa uns camarões mais miudinhos, que eu apago a pomboca."

(Do livro Oh! Casos e delícias raras, do escritor e jornalista catarinense Raul Caldas Filho, Editora Insular e Editora Paralelo 27).

Pra entender...

POMBOCA - Órgão sexual feminino. Também lamparina grande a querosene ou óleo de peixe.
ACROCADO - Ficar de cócoras, sentado sobre os calcanhares.
(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina).

SI QUÉS QUÉS

Uma homenagem da Banda Sabor Brasil aos manezinhos da Ilha.

PÃO-POR-DEUS

" Lá vai meu coração

Sozinho sem mais ninguém

Vai pedir o Pão-por-Deus

À quem quero tanto bem"

PÃO-POR-DEUS - Costume ilhéu de origem açoriana quando uma pessoa se comunicava com outra através de mensagens escritas em papéis coloridos e recortados e eram feitos pedidos dos mais diversos. Os papéis podiam ter diversas formas, sendo a de coração uma das mais utilizadas.

(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina).

PRA BOA PESCARIA, TROVOADA E AFOGADO

Ilda Martinha Vieira, a tia Ilda, é uma das últimas benzedeiras da Ilha de Santa Catarina e mora na praia do Pântano do Sul. Em legítimo manezês ela ensina algumas de suas benzeduras.

Benzer de afogado - Quando as pessoas se engasgam, principalmente com espinha de peixe. (Dicionário da Ilha- Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina).

"São Brás de Lupra,

de seda a seda,

tirás um osso,

que está no pescoço

Eu sou quem te benze e Jesus é quem te cura.

Em nome de Deus e da Virgem Maria."

NO DOTÔRI

Adriana Medeiros, professora da UFSC , exercitando o manezês em uma palestra.

Dotôri - Doutor, médico.
(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina)

TEMPOS DE FARINHADA

O tempo da farinhada
É um tempo bem divertido
É quando as moças solteiras
Tentam arranjar marido!
(Quadra cantada durante as farinhadas na Ilha de Santa Catarina)


Parte do documentário de Ademir Damasco, que retrata o dia a dia de um engenho de farinha de mandioca, desde a preparação da terra, o plantio, a colheita até o produto final, que é a farinha.

Farinhada - Tarefa coletiva de fabricar a farinha da mandioca.

(Dicionário da Ilha - Falar & Falares da Ilha de Santa Catarina)

A TAINHA DO SEO MANECA

Olha o conduto...

Foto http: www.deolhonailha.com.br

Geraldo Cunha é ator e diretor de teatro e cinema, formado pelo curso de artes cênicas da UDESC. Desde 1991 encarna o Seo Maneca, personagem que representa o nativo da Ilha de Santa Catarina, o típico manézinho da Ilha.

"Olá cambada de instepô! Hoje vambo prosea da tainha. Não é dos peixes do mo gosto. Prefiro até a anchova. Gosto mexmo é um bom ensopado de curvina. Maji eu sei que tem muito amarelo purai que apreceia mesmo é uma bela tainha grelhada, frita em posta e até escalada no soli. Hoje em dia até fazi umas gaioleta pra mode as baregera não apara imcima do peixe.Tava eu indo lá pro Campeche, convidado pelumcumpadre de lá pra ajudá cume umas tainha que eles pescaro no sábado, de arrastom. Não deu muita, cosa poca mas deu pro gasto e todo mundo tiro a barriga da miséria. Um jacuba bem a moda do manezinho.Eu de tolo não tenho nada pedi pro cumpadre Eriberto me passa a receita que taí excrivinhado tudo bem dereitinho.

CALDO DE TAINHA A MODA DO MANÉZINHO (Pra 6 esfomiado).

3 kg de tainha (2 tainhas médias)

3 tomates e 2 cebolas

1 pimentaum

4 dentes de alho

1 colher (sopa) de orégano seco

1 colher (sopa) de manjericoum

1 colher (sopa) de salsinha

1 colher (sopa) de alfavaca

1 colher (sopa) de cebolinha verde

1 pitada de colorali ou 2 colheres (sopa) de molho de tomate

1 pitada de cominho
Farinha de mandioca

Sali

APREPARO

Di primero limpe as tainhas, corte em postas e reserve.Em uma panela grande, refogue no azeite o tomate, a cebola, o pimentaum e o alho. Junte os temperos verdes, o colorali (ou molho de tomate) e o cominho. Despoji coloque água quente (uns 4 litros) e deixe levantar fervura. Junte o peixe e deixe ferver de 10 a 15 minutos ou até que as postas estejam cozidas, mas firmes. Tire as postas e separe. Na hora de servir, coloque uma porção do caldo em cada prato, para cada um preparar seu pirão, misturando farinha a gosto. Por último, sirva as postas com o pirão."

(Receita do pescador Eriberto José de Souza, da Praia do Campeche, Florianópolis, SC .)

Pra Entender!

ABESPINHAR - Picar, beliscar.
DIGERINHO - Ligeiro, rápido.
DISCONFORME - Como o combinado, correto.
FALQUEJAR – Trabalhar uma madeira bruta com enxó ou machado, deixando-a plana, com ângulos. O mesmo que fraquejar.
NÃO ISTROVA! - Não atrapalha, não complica.NEM TE LIGO, FERRO ANTIGO! - Não te levo a sério, nem dou bola pra você!
REMÔIO – Diz-se quando uma pessoa ou animal adoece, perde o apetite, fica de cama.
TÁ COM A TICA! - Estar bravo, com raiva, impliquenta. Ex: "Quirino hoje ta com a tica".
ZABANERA - Mulher desavergonhada, puta.