" Olha o camarom, olha o camarom...
Era assim que o velho Aristides anunciava diariamente o seu produto, camarão fresquinho capturado por ele no Baixio da Costeira, de onde caminhava a pé até ao Mercado, com freguesia certa no Saco dos Limões, José Mendes, Prainha e ruas Menino Deus e Tiradentes. Tempos bandidos esses que liquidaram sumariamente com a figura do
pombeiro, o vendedor ambulante adaptado aos costumes da cidade antiga. Ele vinha de todos os recantos da Ilha, com um pau, ou cambão como era mais conhecido, ligeiramente vergado sobre as cosatas, com um balaio pendurado em cada extremidade equilibrando o peso. Havia também o pombeiro a cavalo, equipado com dois balaios feitos de taquara e cipó. Vendiam de tudo, camarão, peixe, verdura fresquinha, até capim de colchão e flor de macela, uma planta aromática muito comum nas colinas, de suave perfume, que serve para encher travesseiro, provocando um sono reparador. Hoje, dormir em colchão de capim e travesseiro de macela é privilégio de poucos..."
(trecho do conto de Aldirio Simões, Cadê o Pombeiro, do livro Sou Ilhéu graças a Deus - Editora Papa Livro)